sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

pornografia, pênis ereto e cotidiano

*com imagens do poeta e fotógrafo Ren Hang.
Disponível em <http://renhang.org/>. Acesso em 14 fev. 2014.        

         Essa pornotopia cotidiana é mais que um novo direcionamento narrativo. Parece parte de um deslocamento mais amplo nas práticas e nos produtos artísticos, que se voltam para os elementos mais cotidianos. No campo dos fazeres da pornografia, essa volta ao cotidiano é um movimento intenso e potente.

 






O pênis ereto volta ao corpo, e, a ele, leva toda a potência erótica que lhe foi retirada -- pelo racionalismo e pela castidade cristã. O pênis ereto, o sexo explícito passa a ser parte da vida, do ordinário, e o desejo deixa de estar fixado no quarto e nas alcovas pornográficas para ocupar (também) os movimentos da vida ordinária.


 

 




Re-toma-se todo o investimento erótico e contagiante do sexo ereto, da vagina lubrificada, do corpo em êxtase no corpo antes asséptico, disciplinado e des-desejado. O retorno à visibilidade cotidiana tem o poder de detonar  ou de reinventar os movimentos ordinários, antes reservados ao disciplinamento do corpo e do sexo, para o qual as sexualidades são formas cada vez mais destinadas às condutas disciplinadas e de expectativas cada vez mais definidas.

 






investimento erótico no corpo.
à dimensão erótica do corpo; trazer à tona, aflorar os desejos.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

inventário de interstícios

não, não sei bem o que é um inventário. talvez seja uma lista, um rol de coisas.
mas inventário chama atenção para uma outra palavra: inventar. inventar não necessariamente no sentido de criar algo do nada, mas inventar o que encadeia aquilo que compõe um inventário. quais os critérios, as disposições, os desejos do que deve compor um inventário. a gente inventa um inventário. inventário de animais que vivem no quintal da minha casa? inventário dos livros de uma biblioteca? inventário dos gestos de um fumante ao fumar? todos esses são critérios arbitrários, fugidios, não-fixos: mas que se fixam pelo gesto mesmo de criar esse inventário.

eu penso em um inventário de interstícios na pornografia. mapear aquilo que de novo, de inesperado, de ocasional que acontece na imagem pornográfica. quais os novos signos que passam a orbitar em torno do pornô, por meio das produções cada vez mais diversas que se organizam em torno do predicado de pornográfico? são interstícios fugidios, que podem ou não se fixar. se se fixam, onde se fixam, em que pornografia se fixam? mas não estão interessado na rigidez ou na fixidez do pornô, mas naquilo que ele traz de novo, que ele inaugura, ou que ele usa apenas um vez, em uma produção. vale aqui a aproximação sempre bem-vinda à pornografia caseira e amadora, que, circulando em meio às várias práticas políticas, sociais, pessoais, de desejos, de sexos, de poéticas e de fazeres, é campo interessantíssimo para a entrada, a apresentação e a insinuação de novos desejos para o pornográfico. as pornografias de territórios pós-coloniais também são muito bem-vindas, principalmente a brasileira, considerada marginal ao espetáculo da pornografia comercial.

como método, a implicação do corpo, aquilo que meu corpo percebe como novo, como apontamento de interstícios. os beijos, os contatos outros, aquilo que foge ao script, aquilo que circula de novo. terreno de armadilhas, de não-saber: onde fica desejo e intelecto? há ainda ou sim essa divisão? cadê esse corpo experimental? este é alienado do corpo conhecedor, epistêmico?